Thursday 13 March 2008

Exit/Delete

Takagi Masakatsu + David Sylvian

Wednesday 5 March 2008

o regresso

Não que importe muito ao mundo, não que me importe muito a mim, esta parte pequenina de mundo, e ainda que não saiba bem o que dizer ou porquê, que fique escrito que estive e continuo ausente. Que estou aqui mas não estou. Que voltei mas continuo não sei bem onde. Para que fique escrito e para que se esclareça.

O meu computador está vazio e não fossem os riscos que lhe reconheço ao toque não parecia sequer meu. O meu chefe, um daqueles espécimes genuinamente bons, que a existirem, ele figuraria decerto nos jantares mensais de reunião dos membros, perguntou-me se queria fazer parte da equipa real do atelier. Eu respondi que se não me perguntasse por quanto tempo eu poderia aceitar. Depois morreu. Fim de semana, tudo normal e puff. Ataque e morte. E eu só doente. Sim que sem me conseguir mexer. Sim que com febre. Sim que sem me levantar do sono três dias seguidos e sim que demasiadas mãos a puxarem-me da cama para baixo. A puxarem devagarinho como quem faz alongamentos no Pilates ou na Yoga. Devagar, sem saber bem que se vai esticando mais. Como quem se prepara para dançar ou correr. Quando voltei à minha temperatura normal, tinha menos um chefe. Menos um projecto. Menos uma casa. Menos um ou dois amigos. Menos um namorado( a existir, um menos). Menos telefonemas. Menos interesse. Menos vontade. Menos barulho ( sanidade mental, um ponto) Foi assim como que um menos com menos com menos com menos com menos dá alguma coisa, eu não sei bem é quanto, se é menos ou mais. Em que eu, sem me mexer personificava o stretching rente ao solo. Assim um género de aquecimento até ao esquecimento total do corpo. Anestesia. E agora, mesmo sem a musica que não me deixava dormir, com outro quarto noutra casa que só escolhi, não pelos extensos 4 ou 5 m2 do quarto, mas porque saio e estou num daqueles parques que dão vontade de chorar e que quando se está no meio é frio e podia ser só uma clareira numa floresta e o céu é um bocadinho mais claro enquadrado pelas arvores em circulo e o ar que se respira é mais antigo, conclui que sinto muito pouco. Como se me dissesse a mim, sinto muito pouco. Pelas mortes alheias, pela minha, pelos dias que acontecem todos os dias. Muito pouco. E ainda que perceba que não é bom, não me sinto muito mal. Se ninguem me perguntar se estou bem ou mal eu não vou morrer. Se não disser a ninguem que não há esquilos no meu parque e que já não existe o meu pub na minha vida, não vai ser dramático. Se eu ficar assim, só eu, talvez não seja mau de todo, que talvez me lembre das coisas que quero fazer e ter e pensar. Ainda assim, as anestesias só duram o que duram, depois vou ser só eu outra vez. E estranho, estranho, não me tenho lembrado mais das minhas coisas nem das coisas que quero fazer e não tenho feito nada. Aliás, tenho sido só eu muito do tempo para trás e nunca me tinha visto nesta fotografia. Ps. Não esquecer de voltar ao laboratorio e procurar imagens pelo meio do vermelho. E de só voltar depois de cantar, já que pensei ser tão simples como voltar amanhã, mas parece que o meu caminho anda paralelo com o resto do mundo. Se não tivesse a geometria descritiva na ponta dos dedos e não soubesse que as paralelas se encontram no infinito era tudo bem mais difícil.
Andei e corri e escoreguei dentro de um edificio estranho com gente estranha a noite toda. Como se dentro de um aquaparque sem água. Não estava muito divertida, mas seguia esse caminho sem sinalização mas definido, calmamente. Acordei cansada. Não gosto muito de perceber algumas coisas e de não perceber muitas outras. Acabei o meu livro. Gostei muito. O Lenz morreu.

Ah, isto e o facto de ter finalmente um molho de chaves e um modem, dado importante para manter qualquer vida virtual, seja ela saudável ou moribunda. E ainda telefone fixo. Não que isso altere muito as coisas, mas para que tal como a ausência, que o potencial regresso fique também registado. A quem interessar.