Monday 11 February 2008

tamak

Porra. Se fecho os olhos comeca tudo a andar a roda e eu sem sequer por moeda ou sorrir com a musica ou o barulho de fundo. Ainda ontem eu e so eu, hoje uns copos de vinho e nao a minha casa. Mas tudo igual, o nao poder explicar e ser mal interpretada. O pedir e nao ser ouvida. O esperar e nao receber nada. Porque raio serao as pessoas tao complicadas? Durmo por solidariedade na cama nova da Asel, volto de novo para a minha secretaria onde partilho disparates com o grego na lingua que me apetecer, mas continuo a nao conseguir explicar e nao magoar a pessoa que me devolve a pele em carne viva quando me solta.
Gosto de dancar sem pensar. E que os meus amigos me respondam agora? quando lhes digo que gostei e preciso de ajuda para me mexer outra vez. O meu colega chileno leva o som todo dentro dele e se me puxa, eu so agradeco que tenha sido eu. Sorrio um bocadinho ao ser levada nas rodas pelos pubs embebidos em pints de guiness e nao digo nada. Nem porque sim nem porque nao. So fecho os olhos e ando a roda a espera de cair. A espera que alguem me agarre. Nao me deixo cair. Ninguem me agarra. Basta-me rodar e ficar um bocadinho tonta para estar um bocadinho menos infeliz.
Mas hoje nem dancei. Foi o meu primeiro dia presa ao contracto de trabalho. Nao trabalhei nem mais nem menos. A ideia de contracto afigura-se-me como uma arma apontada a cabeca. Tenho medo que alguem dispare. Nao a posso desviar. Faco so de conta que nao existe. E hoje que nao tenho bar por baixo, vou dormir, e juro que nem sequer vou pensar nisso.

Saturday 9 February 2008

saturday night fever

De certeza que ha dias assim. Que comecam a custa de proteccoes nos ouvidos para deixar vencer o cansaco e nao o barulho todo por baixo. Nos quais acordar sabe melhor que qualquer outro dia, porque 'e cedo e o sol brilha e nao apetece estar em casa. Apetece sair, comprar o jornal, beber sumo de laranja e chocolate quente e um bolo na esplanada. Sem casaco. E ficar la de olhos semicerrados a espera de absolutamente nada. E depois voltar a carga e percorrer kilometros nos tapetes e nas alcatifas das agencias imobiliarias em busca de casa. E nao descobrir coisissima nenhuma a nao ser restos de saldos nas montras e casas com sinais de let by nas ruas possiveis. E voltar a casa cansada cansada de procurar casa para tres sozinha. E tomar o pequeno almoco sozinha. O almoco sozinha. O jantar vegetais, o que nao conta. E querer muito sair e fazer qualquer coisa para que seja um dia a serio. E esperar. E sair. E nada. Acabar sozinha aqui.

Wednesday 6 February 2008

Lisboa- Londres

De noite os aglomerados urbanos formam joias de uma beleza inenarrável. Algumas vezes pensei numa marca de joalharia que fosse um bocadinho do lugar que cada um leva consigo. E levá-lo assim, também, ao pescoço, pelas mãos. No cabelo. (Hoje Almada e Lisboa presas pela ponte. Amanha Montpellier e o caminho para as montanhas do Monet).
Seriam fotografias com brilho incrustado. Talvez recortadas onde o negro negro desenha. As estradas, as correntes. os fios. As praças uma pérola ou um brilhante. Uma flor. A iluminação com o mesmo teor de brilho no corpo. Tentei fotografar. Tive de desitir. Saia sempre desfocado. Longinquo. Não se pode agarrar pela lente assim algo tão grandioso. Tirei os oculos e desenhei.
Desta vez não pensei tanto nisso, só por uns breves instantes. Lia Ao sul da fronteira, ao oeste do sol. E talvez a unica luz que percorria naquelas linhas tivessem a mesma força e o mesmo brilho. Não seria certamente o sol, mas luz nos candeeiros das cidades e das vilas. Assim para o alaranjada, para o descansada. Para o triste.

londres-lisboa

Gostava de voar como qualquer um. Como qualquer pardal ou periquito. Como uma gaivota ou uma andorinha. Como uma águia ou um corvo. Uma borboleta. Uma abelha ou uma desgraçada de uma mosca. Mas à falta de melhor adoro olhar pela janela do avião e esperar pelo sol.
Gosto quando esta cinzento, e depois o limite das núvens. Um espaço de minutos com turbulencia em que eu não peço chá, com medo de me queimar. E por fim, flutuar por cima das nuvens.
Gosto quando as nuvens são como pasta de papel empapada em água. Amolecida. Uma camada inteira de algodão doce como linha ( irregular, às ondas) de horizonte. E o sol muito forte e amarelo torrado por trás.
Gosto de olhar para a janela e fixar o olhar no buraquinho do vidro duplo( sera um tipo de plastico, de certeza). E vê-lo ir criando risquinhos de dentro para fora como se a X-acto. Encher a janela, se o voo é longo, de estrelas de gelo. Gosto de pensar que lá fora estarão cerca de 50 graus negativos, e que o sol me faz desviar o olhar para o ceu azul e para as núvens.
E depois gosto de aprender coisas parvas com a viagem à custa dos companheiros abstractos de viagem; como por exemplo: que passam vários aviões por baixo, ao lado e por cima de nós e deixam um rasto de fumo branco que se vai confundindo com as nuvens no infinito. E que às vezes esse fumo branco passa a negro e faz um traço bem demarcado a carvão no céu. O que faz com que por um lado, a minha janela se vá tornando numa pintura maravilhosa de se ver nascer, e por outro, que eu quase grite para que a rapariga sentada ao meu lado veja o mesmo que eu e não me considere louca, e com que a rapariga sentada ao lado desta, engenheira mecânica, me descanse avisando que o degrade acontece não porque o avião vizinho vá cair, mas porque alguma transformação quimica, envolvendo condensação e velocidade do ar, acontece.
Eu sentada com um livro e uma revista de cidades. A câmara dentro da bolsa, dentro da mala, dentro do compartimento superior que se deve abrir com cuidado, não vá o equipamento ter-se deslocado do seu lugar.
E eu, sem caneta. Sem papel.