Tuesday 14 October 2008

não

Não digo bom dia. Acordo e não digo nada. Água. Repito o meu nome. Daniela. Sim à data de nascimento. O meu nome impresso em série antes de se colar a meia duzia de frascos vazios como iogurtes no supermercado. Arrasto e ajusto a cadeira, que podia ser de dentista pelo peso, para poder desmaiar à vontade seguindo indicações especificas da enfermeira indiana em passo de hipopotamos ao sol e sem poça. Obrigada. Concentro-me no cubo de açucar amarelo e seco na boca. Nos 500 euros que me cairam do dente dias antes e que por pouco não engoli. Trinco o açucar com os outros dentes. Fura-me a enfermeira gorda e eu saio por ai sem vontade. Não caio. Entro tarde. Não olho pela janela. Desenho nas horas que faltam uma parede cortina. Faço me de conta. Saio tarde. Apresento-me a estranhos sem vontade. Chove-me um bocadinho nos óculos e nos olhos. Não vejo razão nenhuma para que as coisas passem por mim e não me encham. Pães com manteiga e fiambre. Bifes. Casas vazias cheias de gente. Quartos sem janela. Espero pela semana que vem e pelos resultados por escrito. Com os intervalos de referência. Espero pelas cápsulas. Pelo xarope. Não digo boa noite. Durmo e nem sonho.